Na edição de 06 de maio de 2013, Fernando Soares entrevistou a presidente da Solarium, Ana Cristina de Souza Gomes para o Jornal do Comércio, caderno de Empresas & Negócios. Confira abaixo a entrevista:

Solarium planeja expandir sua produção 

Dona de quatro plantas espalhadas por Brasília, Porto Alegre, Recife e São Bernardo do Campo (SP), a Solarium começa a planejar mais um ciclo de expansão de suas atividades. Atualmente, a fabricante de pisos e revestimentos trabalha na mudança para um novo local em solo paulista. A área, de 10 mil metros quadrados, permitirá que a capacidade produtiva seja duplicada ou até mesmo triplicada. A ideia é que, até 2014, a obra esteja concluída.

Forte crítica do atual sistema logístico brasileiro, da precariedade das estradas que ajudam a encarecer o preço do frete e da burocracia para exportar, a presidente da empresa, Ana Cristina Gomes, planeja um crescimento de 15% no faturamento neste ano em relação a 2012.

Empresas & Negócios – Depois de 16 anos da fundação da empresa, qual é o tamanho da Solarium hoje?

  • Ana Cristina Gomes – Atualmente, temos uma produção maior, mas o número de funcionários não cresceu tanto assim(são cerca de 130). Isso ocorre porque automatizamos a produção em São Paulo. Já as fábricas em Porto Alegre, Brasília e Recife não são automatizadas, por enquanto. Produzimos em torno de 100 mil metros quadrados ao mês de pisos e revestimentos. São Paulo representa 70% do total e as outras três plantas 10% cada uma. Ao todo, mais de 300 lojas vendem nossos produtos no Brasil. 

Empresas & Negócios – Nas últimas décadas, Porto Alegre vem se desindustrializando. A empresa pensa em sair da Capital?

  • Ana Cristina – A cidade não é amigável à indústria. Não tem um incentivo, e o Estado possui um dos ICMSs mais altos. Quase todos os bairros não permitem indústrias e, por isso, é muito difícil achar uma localização. Até tem espaço no Porto Seco, mas ali fica complicado. Estamos pensando em nos mudar para Eldorado do Sul, por ser de fácil acesso aos nossos funcionários, mas ainda não há nada definido.

Empresas & Negócios – Há, no entanto, uma data limite para permanência em Porto Alegre?

  • Ana Cristina – Nós não temos pressa para sair. Por enquanto, estamos vendo se conseguimos um terreno legal com o prefeito de Eldorado do Sul. Mas, primeiramente, o foco é na obra na fábrica de São Paulo.

Empresas & Negócios – Se Porto Alegre não está se mostrando amigável às indústrias, como a senhora disse, os municípios do entorno estão de olho nessa possível mudança?

  • Ana Cristina – Certamente. Até porque uma indústria gera emprego e impostos para o município. É uma questão de inteligência. A Solarium não gera somente o emprego direto, mas também movimenta uns 200 empregos indiretos. Em São Bernardo do Campo, há uma ferragem do nosso lado que dobrou de tamanho desde que nos estabelecemos lá. Eu brinco com o dono que nós que financiamos o crescimento dele, pois toda hora estávamos comprando um disjuntor novo ou uma chave de fenda.

Empresas & Negócios – Qual é o cronograma da expansão em São Paulo?

  • Ana Cristina – Estamos construindo uma sede própria. A obra ainda não começou, pois estamos em fase de aprovação do projeto. Em São Paulo é muito complicada a questão ambiental, tem que fazer até teste no solo do terreno. Tem que perfurar todo o solo para ver se não há contaminação, e são três ou quatro meses de testes. É preciso fazer levantamento das árvores que existem no terreno e, para cada derrubada, é preciso plantar seis. Então, esse processo todo demora. A obra em si é rápida, pois o pavilhão é feito com pré-moldados. Nossa estrutura vai ter quase 10 mil metros quadrados.

Empresas & Negócios – E quais vão ser os ganhos em termos de produção?

  • Ana Cristina – Vamos duplicar ou triplicar a quantidade produzida hoje. Como estamos limitados no espaço, tem máquinas que importamos e não conseguimos uma área livre para montá-las até agora.

Empresas & Negócios – Quando a obra deve ficar pronta?

  • Ana Cristina – Ainda nem começou, mas temos como data limite o ano que vem. Acreditamos que é possível começar daqui a uns dois meses. Para nos mudarmos, a melhor época é entre 15 de dezembro e 15 de janeiro, porque em São Paulo todas as construtoras dão férias coletivas. E, por ser uma época morta, é boa para mover as máquinas.

Empresas & Negócios – Ao todo, a empresa possui quantos produtos no seu portfólio?

  • Ana Cristina – Temos 25 linhas com mais de 110 modelos diferentes e em 25 cores distintas. É bastante coisa, somando pisos e revestimentos de paredes. Também temos uma linha de complementos urbanos (bancos e vasos), mas esse é um segmento menor.

Empresas & Negócios – O boom da construção civil impactou de que forma o mercado de pisos e revestimentos, em especial a Solarium?

  • Ana Cristina – O nosso mercado é de revestimento, mas, ao mesmo tempo, não podemos ser incluídos no pacote inteiro de revestimentos. Temos um revestimento caro, muito específico. Como tem uma variedade grande de tamanhos e complementos, normalmente não é um produto facilmente encontrado pelo consumidor final. É um item especificado pelo arquiteto, voltado ao mercado de luxo. O boom da construção se deu graças ao Minha Casa, Minha Vida, que tem outro tipo de cliente, que vai comprar porcelanato chinês por R$ 20,00 o metro quadrado. O nosso produto mais barato começa em R$ 100,00 o metro quadrado. Com isso, não somos impactados quando há um boom da construção civil, mas também não sofremos quando esse boom termina, porque o mercado de luxo sempre vai existir.

Empresas & Negócios – A Solarium cogita atender outros nichos, além da classe A?

  • Ana Cristina – Estamos lançando outra linha, que não é o porcelanato de R$ 20,00 ou R$ 30,00 e nem o de R$ 200,00. É um item para construtora, que tem um preço menor, mas não é para o público das classes C e D. É algo para engenharia. Se uma construtora vai fazer um shopping de luxo, ela não vai querer usar apenas o porcelanato muito caro. Mas também não vai querer usar um produto barato. Então, esse nosso produto é o meio-termo.

Empresas & Negócios – O fato de a empresa produzir um artigo de alto valor agregado torna-a imune à concorrência chinesa?

  • Ana Cristina – Ninguém está imune à concorrência chinesa. A gente gosta de venda grande, corporativa. Por exemplo: uma construtora fará um prédio de luxo e vai querer colocar produto Solarium na beira da piscina. Mas o construtor vai usar nosso produto só em parte da piscina, para não encarecer tanto. Por isso, não somos imunes. Por outro lado, quem quer charme vai comprar Solarium.

Empresas & Negócios – Como está o desempenho das vendas para o exterior?

  • Ana Cristina – Vendemos muito para Angola. Estamos mandando mil metros quadrados de revestimento para piscina. Eles têm resorts, e muitos europeus vão para lá. Também estamos exportando para os EUA, Uruguai e alguns países da Europa e da África.

Empresas & Negócios – Qual é a participação as exportações representam no faturamento?

  • Ana Cristina – Muito pouco, nem 5% do faturamento. Está cada vez mais difícil exportar, pois o custo de porto no Brasil é absurdamente mais caro que no resto do mundo. E levar o produto até o porto é outro problema. A burocracia da exportação é tão grande que o item fica caríssimo e a gente perde competitividade. Apesar de o dólar estar a R$ 2,00, continua baixo e nosso produto continua caro. O dólar, para ser real, deveria estar em torno de R$ 2,50.